Comunicado
à Imprensa
Articulação de Mulheres Brasileiras e Tambores de Safo
No último dia 18, durante a
manifestação pública das redes articuladas no Território Global das Mulheres da
Cúpula dos Povos, no Rio de Janeiro, nós feministas das Tambores de Safo nos
expressamos, mais uma vez, com nossa
arte e nossa música, em defesa da justiça socioambiental e repudiando o
desenvolvimento do capitalismo verde que ameaça direitos das populações e a
natureza, agravando as múltiplas crises que vivemos – social, ambiental,
climática, financeira, alimentar.
Na passeata, tocamos nossas
alfaias e desnudamos nossos corpos para expressar politicamente nossa
indignação e protesto, somando-nos ao alerta feminista manifesto nesta Cúpula
dos Povos, diante dos resultados das negociações da Rio+20.
Frente à repercussão de nosso ato
queremos comunicar, juntamente com nossas companheiras integrantes da
Articulação de Mulheres Brasileiras, os sentidos de nossa ação feminista.
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Nosso corpo, nosso primeiro território. Com este pensamento, nós
mulheres do movimento feminista fomos às ruas. A passeata foi um grito contra o
capitalismo que tenta se disfarçar de verde, mas se mantém com sua voracidade
de lucro que tudo transforma em mercadoria: o ar que respiramos, os conhecimentos
dos povos, a água, as florestas, as sementes, a vida... Nossos corpos livres e
nus falaram ao mundo que não aceitamos que os governos tratem nossos direitos
como moeda de troca para patrocinar um dito desenvolvimento que não considera
os direitos humanos.
Queremos viver bem, viver em
condições de igualdade, viver com liberdade. Mostramos nossos peitos nus como
expressão política da nossa luta. Tocamos tambores e gritamos nossas palavras
de desordem. Queremos por fim à ordem patriarcal, capitalista e racista. Nossos
peitos indignados exigem ar puro para viver.
Nosso corpo nos pertence. Este foi
o nosso grito feminista nos anos 1970. Com ele denunciamos a exploração e
dominação. Hoje, renovamos este clamor. Queremos ser donas de nossa própria
vida, livres do racismo e da lesbofobia. Livres da violência machista na
família, nas ruas e na mídia. Livres da discriminação na política e da dupla
jornada de trabalho.
Queremos decidir o que vestir, o
que comer e como viver. Não aceitamos as imposições do modo de produção e de
consumo com o qual o capitalismo tenta submeter os povos do mundo. Nossa mesa é
um ponto de encontro com quem convivemos e amamos, e nela queremos compartilhar
alimentos saudáveis. Por isso gritamos não aos agrotóxicos, aos transgênicos, à
monocultura. Do alimento depende a saúde do nosso corpo. Temos direitos de
exigir alimentos saudáveis.
Denunciamos a violação de nossos
corpos pelos homens, pela mídia, pela sociedade e pelas instituições que lhe
dão sustentação. Denunciamos a heterossexualidade como obrigação que nos impõe
uma forma de viver nosso afeto e prazer, marginalizando ou transformando em
fetiche a lesbianidade e a bissexualidade. Denunciamos os abusos da medicina
estética e da indústria cosmética que manipula, explora e controla nosso corpo
e impõe sofrimento e risco de morte a muitas mulheres pressionadas pelos
padrões de beleza ditados pela indústria e pela mídia, empresas que estão nas
mãos de homens brancos e burgueses que ganham enormes lucros com as nossas
dores e com a venda de ilusões.
Condenamos a exploração das
mulheres pela indústria farmacêutica. Em todo o mundo, as mulheres formam a
maioria das pessoas que consome tranquilizantes, remédios que anestesiam nossos
corpo e nossa mente, para que suportemos a opressão e violência que nos causam
tanto mal. Lutamos para escolher tratamentos e modos de vida e para impedir que
os grandes laboratórios ganhem com nosso adoecimento.
Exigimos o fim da exploração das
mulheres negras pela cultura patriarcal e racista, que nos trata como produto
de exportação. Nosso corpo não está à venda. Nossa imagem não é mercadoria.
Queremos o fim da exploração do corpo e da sexualidade das mulheres.
É preciso superar a hegemonia
capitalista e reconhecer legítimas outras formas de economia e de produção do
viver, em bases colaborativas e solidárias. É preciso por fim a relações de
produção e trabalho baseadas na exploração sem fim das pessoas e da natureza,
na divisão sexual do trabalho e na superexploração das mulheres dela
decorrente.
Defendemos a efetivação dos
direitos de todos os povos do mundo e seus territórios e seus modos de vida. E
defendemos os direitos de nós, mulheres, à igualdade, à autonomia e à liberdade
em todos os territórios onde vivemos e naqueles onde existimos. Nossos corpos são
nosso primeiro território.
Afirmamos que nosso projeto de
felicidade inclui inúmeras possibilidades de realização: pelo estudo,
trabalho, na luta política, nas artes, no lazer e não só pela maternidade, mas
também por ela, desde que seja desejada.
Os nossos corpos nus nas ruas
expressam os nossos sonhos de autonomia e liberdade. Queremos ser livres para o
amor e o prazer. Livres para sermos mais felizes.
Rio de Janeiro e Fortaleza,
21 de junho de 2012.
Tambores de Safo e integrantes da Articulação de Mulheres Brasileiras
(AMB)
presentes no Território Global
das Mulheres da Cúpula dos Povos
----
Contatos:
Pela organização Tambores de Safo: Alessandra Guerra (85) 8508.1618 ou (85)
9781.1718
Pela coordenação executiva da AMB e coordenação do Território
Global das Mulheres na Cúpula dos Povos: Schuma Schumaher (21) 9999.9122
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